Também conhecida como Lobomicose, essa doença é causada pelo fungo Paracoccidioides lobogeorgii, um microrganismo que ainda não é cultivável em laboratório. Essa característica é um fator crucial para a ausência de um tratamento oficialmente eficaz. A Doença de Jorge Lobo faz parte das micoses de implantação. A transmissão provavelmente ocorre com a implantação do fungo em pele lesionada ou com escoriações, por meio de algo contaminado, como plantas, solo, água ou madeira, presentes em regiões de floresta. Afeta principalmente pessoas que vivem ou viveram em áreas florestais.
Há pouco menos de mil casos relatados em todo o mundo, com maior predominância no Brasil, especialmente nos estados de Rondônia, Amazonas, Pará, Maranhão e, principalmente, no Acre. O serviço de Dermatologia deste estado registra mais de 400 casos da doença.
Os sintomas da doença incluem lesões cutâneas que se manifestam como queloides, verrugas ou nódulos, surgindo principalmente nas orelhas, pernas, braços e tronco. Inicialmente, as lesões são o único sintoma, mas com o avanço da doença, aparecem pruridos (coceiras) intensos.
Por não existir um tratamento oficial que garanta a cura, os pacientes sofrem com a progressão da doença, o que impacta negativamente sua qualidade de vida e provoca estigmatização (preconceito), levando, em alguns casos, ao afastamento social.
Há mais de 10 anos, o médico Dr. William John Woods (in memoriam) trabalhou incansavelmente com esses pacientes, proporcionando alívio dos sintomas e conforto por meio de tratamentos medicamentosos que reduziram significativamente as coceiras e lesões. Graças ao trabalho deste profissional e sua equipe, além de registros feitos por meio de pesquisa científica, a doença passou a ter mais foco de discussão em âmbito nacional e internacional.
Recentemente, tive a satisfação de participar de um webinário sobre Micoses de Implantação: Abordagem de um Problema de Saúde Pública Negligenciado, cujo objetivo era qualificar a assistência à saúde de indivíduos portadores dessas micoses. Foi importante ver a Doença de Jorge Lobo incluída nesse contexto. Parabenizo a Coordenação de Micoses Endêmicas do Ministério da Saúde por essa iniciativa e, principalmente, por possibilitar a busca de melhores entendimentos e tratamentos para a doença. Atualmente, o Ministério da Saúde, em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde do Acre, fornece antifúngicos para o tratamento dos pacientes, que continuam a ser diagnosticados e acompanhados pelo Serviço Estadual de Dermatologia do Acre, localizado na FUNDHACRE. Este serviço também é referência para cirurgias de exérese (retirada) das lesões.
É fundamental que outros profissionais de saúde, especialmente aqueles da atenção básica, participem de eventos e discussões como essa, a fim de facilitar o reconhecimento, diagnóstico e tratamento precoce da doença.
Gostaria de utilizar este canal para solicitar à população que, ao apresentarem lesões desse tipo, procurem o serviço de saúde o mais rápido possível, ainda na fase inicial da doença, para um melhor manejo e tratamento. Embora ainda não haja cura oficial, é possível obter regressão dos sintomas, o que reflete em uma melhoria significativa na qualidade de vida.
Aos pacientes já diagnosticados, reforço a importância de não faltar às consultas e de continuar o acompanhamento no setor de dermatologia. Além disso, é fundamental que não interrompam o tratamento com itraconazol e sigam as orientações médicas, como “tomar os medicamentos após o almoço”, preferencialmente com um suco de limão, laranja ou outra fruta cítrica, pois isso aumenta a eficácia do medicamento e contribui para a redução da doença.
Precisamos falar mais sobre a Doença de Jorge Lobo – Lobomicose – para facilitar e ampliar o diagnóstico precoce dessa enfermidade.
Rio Branco, 21 de outubro de 2024.
Profª Dra. Franciely Gomes Gonçalves
Pós-doutoranda em Ciências da Saúde / FMABC / Santo André / SP