Se os valores cristãos fossem candidatos, seriam os que menos pontuariam em qualquer pesquisa de opinião, de qualquer instituto, perdendo até para as intenções de votos brancos e nulos, nestas últimas eleições municipais. Com o avanço da IA (Inteligência Artificial) e a chegada do ChatGPT, não é mais necessário ler as Sagradas Escrituras ou fazer um curso de teologia para saber que os valores cristãos são o amor ao próximo, compaixão, caridade, justiça, paz, perdão, humildade, honestidade, esperança, fé em Deus, dentre outros.
Os valores cristãos são os mesmos valores humanos, mas, justamente por emanarem da vida de Jesus de Nazaré e dos evangelhos, alcançam uma dimensão maior e exigem uma atitude corajosa, coerente e despojada dos cristãos. Caso contrário, de que adianta ser cristão, senão para os atos e atitudes da vida do dia a dia, em todas as circunstâncias? Seria apenas uma aposta (aliás, já estou pensando em criar a BetFé) ou um investimento para lucrar com a vida eterna?
A tal ideologia política, então, parece aquele leque de cores à disposição do cliente para escolha, que se encontra nas lojas de tinta, cujas opções vão muito além dos cinquenta tons de cinza. Partindo do meio do leque para a esquerda, são dezenas de tons, e para a direita, outra infinidade, variando de gradação conforme a índole e a ganância do candidato e do eleitor. É pura promiscuidade. A rigor, ninguém mais sabe o que é ser de direita ou ser de esquerda, nem na prática nem na teoria. Tudo fica só na retórica, de acordo com o público e as conveniências.
Assim como naquela mágica em que o personagem troca de roupa e de cores em frações de segundos, sem que ninguém perceba, alguns candidatos e, muito especialmente, os apoiadores e eleitores batizados na fé cristã, despem-se dos valores cristãos para incorporar a doutrina das profundezas do inferno.
É claro que o jogo da política, especialmente durante as campanhas eleitorais, se joga no campo profano, é rasteiro, sem ética e sem escrúpulos, desenvolvendo-se em terreno acidentado, nos escombros e na calada da noite, iludindo a Justiça Eleitoral, que acredita que as eleições acontecem sempre dentro da normalidade. Imagine só!
A disputa entre os candidatos aos cargos eletivos é grande; porém, não é maior do que a guerra entre seus apoiadores e cabos eleitorais, com os concorrentes, que entregam a alma ao diabo, destilando o ódio da intolerância e do desrespeito, vomitando despropósitos que causam arrepio e indignação até ao demônio, para garantir uma assessoria, um cargo comissionado, uma vaga na empresa terceirizada, um contrato, uma vantagem de qualquer natureza.
O desrespeito e a intolerância em relação às diferenças, às minorias, que sofrem horrores com nosso preconceito, são pregos que os cristãos fincam na cruz de Jesus, inclusive lideranças religiosas ávidas por dinheiro e poder, que pensam estar com créditos diante de Deus, mas que estarão bem longe (e que não aleguem ignorância), lá no final da fila, no Julgamento Final. Estas eleições municipais foram alçadas a um outro patamar no que diz respeito às agressões, à violência, aos atentados contra a integridade física e moral dos candidatos, inclusive aqui no Acre. As próximas eleições municipais serão ainda piores. Anotem.
E nós, cristãos, deveríamos nos envergonhar de nossa postura e indiferença. Ao contrário, estufamos o peito e nos sentimos até orgulhosos por agredir e ofender o próximo e o distante, todos filhos de Deus, tudo para garantir o nosso interesse pessoal, por vaidade, egoísmo e mediocridade. Ideologia e coletividade, Ave Maria?!
Gilson Pescador é Advogado e Teólogo